Recentemente, o Brasil avançou rumo à eliminação da transmissão vertical do HIV, que é quando o vírus é passado de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação. No início de junho, o Ministério da Saúde entregou à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), a documentação necessária para obter o certificado de eliminação da transmissão vertical do vírus.
O relatório destaca que, em 2023, menos de 2% dos bebês de mães que vivem com HIV foram contaminados, e a taxa de incidência de HIV em crianças ficou abaixo de 0,5 por mil nascidos vivos, números que demonstram os avanços da saúde pública brasileira na prevenção e no tratamento da infecção durante a gestação.
Para o ginecologista e especialista em reprodução humana Dr. Vamberto Maia Filho, a conquista é motivo de celebração, mas também de conscientização. Ele reforça que, com diagnóstico precoce e adesão ao tratamento, a mulher que vive com HIV tem todo o direito e respaldo clínico para engravidar com segurança.
“É fundamental quebrarmos o estigma de que mulheres com HIV não podem ser mães. Isso é uma inverdade que ficou no passado. Hoje, com o tratamento adequado, o risco de transmissão do vírus para o bebê é praticamente zero”, afirma o médico.
Informação é vida
O Brasil vem fortalecendo ações que garantem a saúde de gestantes vivendo com HIV, como a testagem no pré-natal, o uso de antirretrovirais durante a gestação e o acompanhamento contínuo com equipes de saúde. Em 2023 e 2024, o país registrou mais de 95% de cobertura em pelo menos uma consulta de pré-natal, testagem para HIV e início de tratamento para gestantes soropositivas.
“Com o acompanhamento correto desde o planejamento da gravidez até o parto, é possível garantir não só a saúde do bebê, mas também a qualidade de vida da mãe. Ser mãe é um direito, e a medicina está aqui para apoiar isso com segurança”, defende Dr. Vamberto.
Além da redução na transmissão vertical, o Brasil também viu a taxa de mortalidade por aids cair para 3,9, a menor desde 2013. A ampliação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e dos testes rápidos também são fatores que ajudam a frear o avanço do vírus.
Romper o silêncio para romper o ciclo
A eliminação da transmissão vertical é mais do que uma conquista sanitária: é um marco social. Ainda hoje, muitas mulheres enfrentam preconceito, desinformação e medo de falar sobre o HIV, o que pode atrasar o diagnóstico e comprometer o tratamento. “Quando falamos de HIV, ainda enfrentamos muito tabu. É preciso desmistificar o vírus e entender que viver com HIV não é uma sentença. É uma condição de saúde que, com responsabilidade e apoio, pode ser perfeitamente compatível com uma vida plena, inclusive com a maternidade”, finaliza o especialista.
O Brasil agora aguarda a chancela oficial da OMS para se juntar a outros 19 países que já receberam o certificado de eliminação da transmissão vertical do HIV. Mas, mais do que reconhecimento, o avanço significa um novo capítulo para milhares de mulheres: o da maternidade livre de medo.
Sobre o Dr. Vamberto Maia Filho – Especialista em reprodução humana, com mais de 20 anos de experiência, é referência nacional em tratamentos de fertilidade. Foi o primeiro residente em reprodução humana do Brasil e integrou a equipe responsável pelo primeiro bebê gerado por FIV pelo SUS. É doutor pela UNIFESP, onde atuou por mais de uma década no ensino e na pesquisa em ginecologia endócrina. Autor do livro “Filhos, histórias inspiradoras”.